sábado, dezembro 24, 2005

A palavra.

Escher- Drawing Hands

Cada vez que penso sobre um assunto de meu interesse, que racionalizo ou que sinto algo, quero escrevê-la. Tenho percebido o quanto escrever é algo fundamental, até mesmo vital pra mim. Mas tenho dificuldades... Não consigo escrever sobre o que eu não sinta, sobre o que não fez parte de mim, sobre aquilo que não vivenciei com minhas células...Isso faz dos meus escritos algo muito pessoal, até mesmo egoncêntrico. Uma escrita que não pertence a mais ninguém, que não eu. Dentro de mim, a vontade de me expressar de um modo que essa escrita pertença também aos outros e que os outros se apropriem de minha escrita (apropriação aqui, significa identificação!) e que a sintam de uma forma intensa, como muitas vezes senti lendo Machado de Assis, Saramago, Clarice, Neruda, Drummond e tanto outros que fizeram de minha existência uma experiência muito mais valiosa.
Quero escrever proporcionalmente a minha indignação. Escrever palavras de revolta unidas a formação social e humana que tenho e colocá-las ordenadamente no papel a ponto de fazer com que outras pessoas ao lerem também se indignem.
Quero escrever proporcionalmente a minha paixão, que arde em cada póro de meu corpo, cada célula, cada toque, cada olhar. E latente em brasa me entrego sem vontade de saber onde vou chegar.
Quero escrever proporcionalmente ao amor que sinto, amor incondincional que acolhe aos meus, e que se sente completa e serena sem nada em troca. Um amor que não tem necessidade de ser dito, porque já se estabeleceu, porque já deixou de tentar ser e passou simplemente a ser. Condição de vida.
Quero escrever proporcionalmente a íra que sinto. Com toda minha raiva, com todo a intensidade que me permito ter quando sinto raiva. Raiva de uma ação, de uma reação, de uma palavra mal dita. De uma ação sem consciência. Mesmo que essa raiva muitas vezes não seja expressada. Mas quero escrever com toda íra que sinto, mesmo que reprimida.
Quero escrever com toda a minha tristeza. Com toda minha falta de força pra seguir adiante aliada o meu desespero - ainda que breve. Quero escrever com toda minha dor da ferida que não se estanca, da cicatriz que não fecha. Ferida aberta...
Quero escrever com toda minha ansiedade, aquela que passa o tempo pulando as horas, imaginando como seria o que ainda não é. Vontade de ter o tempo antes que eles nos pertença, porque ainda não existe.
Quero escrever com toda minha lascidão, minha falta de pudores. Meus desejos descobertos, minha vontade de me descobrir assim em péle, carne, mãos, ouvidos, bocas, cheiros, sabores e formas! Escrever com a mesma intensidade e vontade de ter como troféu na reta de chegada a incrível sensação de saciedade...
Quero escrever com toda minha razão, que racionaliza e sistematiza meus pensamentos e ações e consequências viáveis ou não. Quero escrever seguindo o mapa da razão, com sua estrutura lógica e que faz com que as palavras ganhem credibilidade.
Quero que minha escrita ganhe significação estética, racional, passional.
Escrevendo, talvez um dia eu chegue lá...

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