domingo, janeiro 15, 2006

Caminhada na madrugada

Está completando um ano de minha mudança. Saí da casa de minha mãe, pra criar minha atmosfera, meu espaço. Estou aprendendo a administrar a minha vida sozinha, pensando agora em vôos mais altos.
Não sinto saudades de morar com minha mãe ( mãe, não fique ofendida, pois sei que frequenta esse espaço. Gosto de estar com você, mas adoro o espaço que criei pra mim, meu canto.) Porém desde que me mudei, deixei de fazer algumas coisas que faziam parte de meu cotidiano e que agora tento retomá-las aos poucos. Uma delas é a caminhada nas noites de verão durante a madrugada.
Morava em um dos bairros mais tradicionais e antigos de minha cidade, algumas ruas ainda conservam essa atmosfera antiga com suas casas em estilo colônial com o ano de construção escritos em cima das portas grandes de madeira que dão direto pra rua, sem alpendre, sem varanda. Nasci e me criei em Santana, reduto dos mineiros que foram pra lá desde o inicio do século, bairro que tem como fonte o Rio Paraíba, com suas histórias e lendas. Em Santana, não há monotonia, bêbados margeiam as calçadas, adolescentes paqueram nas praças, o relógio da igreja guia todos os moradores do bairro, as procissões ainda são um grande acontecimento, senhoras e senhores sentam nas calçadas em noites de verão, o presépio das irmãs é esperado em todo Natal, os vendedores de algodão doce e pipoca ainda passam de rua em rua, as crianças pulam amarelinha e corda, e brincam de pique esconde ou bandeirinha e eu me sinto acolhida e segura.
Hoje, moro no outro lado da cidade, região que mais cresceu e evoluiu em dez anos. Não preciso me deslocar para o centro da cidade se eu não quiser, pois onde moro, existem bancos, lojas, farmácias, padarias, shoppings, enfim, uma cidade dentro da cidade.
Mas em Santana, bairro onde nasci e me criei, tinha a doce liberdade de fazer minhas caminhadas depois da meia noite ( já que sou notívaga, e nunca durmo antes das duas da madrugada), eu tomava um banho colocava uma roupa leve e saia pelas ruas de paralelepidos do bairro que conhecia com a palma de minha mão. Eram caminhadas de "espairecimento", momento de esfriar a cabeça e pensar em nada ou de lembranças de infância, pois por onde passava, recordava histórias vividas e antigas. Sinto falta disso, hoje não me sinto segura saindo pra esses passeios noturnos na região onde moro, fico com receios, não relaxo.
Existem praças bonitas por aqui, mas não tem a vida que Santana tem, e não me sinto em casa nas praças desse canto da cidade.
Sexta feira a noite, sai de minha casa, atravessei a cidade com meu carro, estacionei na casa de minha mãe, encontrei dois grandes amigos e sai por entre as ruas do meu bairro querido, foi bom sentir essa atmosfera novamente...

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